A contaminação por Legionella pode aparecer em edifícios, lares de 3ª idade, hotéis, spas e outras instalações que recorram ao uso de água. Mas o que é a Legionella? Representa mesmo um risco? Como evitar contaminação? A co-fundadora da WASE, Marta Gomes, explica.
O que são bactérias Legionella?
As bactérias Legionella são bactérias ubíquas, existem na água. Quando são criadas as condições ideais de temperatura, oxigénio e alimento, multiplicam-se. Na aerossolização da água (chuveiros por exemplo) e em contacto com a população suscetível, pode levar à doença dos legionários, uma pneumonia grave.
Onde se encontram as bactérias Legionella?
Podem ser encontradas em números baixos, no ambiente ao nosso redor, incluindo lagos, rios, reservatórios e solos húmidos.
É importante entender que as bactérias que existem na natureza não são manifestação do desenvolvimento industrial do homem.
Conforme relatado pelo especialista em Legionella dos EUA, Dr. Victor L. Yu, os processos primários de tratamento de água não são eficazes na eliminação de baixos níveis de Bactérias Legionella.
Sistemas de engenharia de água em instalações industriais e comerciais podem apresentar condições nas quais as bactérias podem proliferar. Instalações que podem ser colonizados por bactérias (incluindo Legionella) incluem equipamentos de arrefecimento, serviços domésticos de água quente e fria, fontes, piscinas de hidromassagem e chuveiros, assim como qualquer equipamento que possa gerar aerossóis.
Muitos tipos de sistemas de engenharia de água têm sido associados a casos de legionelose.
Os serviços sanitários de água quente e fria assim como torres de arrefecimento, são os dois tipos instalação que frequentemente têm sido implicados na legionelose, e que, portanto, apresentam maior risco previsível.
As Legionellas podem não só desenvolver-se como também esconder-se nos biofilmes. Tal facto deve ser cuidadosamente levado em conta, já que torna os tratamentos de desinfeção não totalmente fiáveis pois agem apenas localmente. As bactérias podem encontrar refúgios seguros nos biofilmes, estas bactérias sésseis são as mais difíceis de controlar, pelo que há que monitorizar o seu desenvolvimento.
As Legionellas- um grupo diversificado de microrganismos com um representante líder Legionella Pneumophila– multiplicam-se nos sistemas de transporte de água, sempre que reunidas as condições ideais:
- Temperaturas entre os 20ºC e os 45ºC,
- Fonte de oxigénio,
- Fonte de ferro solúvel;
- Fonte de L-cisteína (aminoácido produzido por outras bactérias);
- Água estagnada nas canalizações, seja em pontos mortos da rede, ou por falta de utilização;
- Fontes de entrada de contaminação exterior (promove a formação de biofilmes).
Adicionando equipamentos e canalização envelhecida, assim como a baixa manutenção dos sistemas e um clima quente e húmido, haverá desenvolvimento da bactéria.
Como é transmitida a doença dos legionários?
Geralmente, as pessoas são expostas à Legionella quando respiram pequenas partículas de água que contêm as bactérias. A maioria das pessoas saudáveis expostas à bactéria Legionella não fica doente. É mais provável que esta doença afete indivíduos com mais idade ou pessoas com um sistema imunológico debilitado ou com doenças subjacentes.
Como é avaliado o risco?
Se a sua instalação apresenta risco de contaminação de Legionella, para evitar contaminação, pode ser feito um teste de auto-avaliação como ponto de partida – pergunte-nos como ou encontre mais informações aqui.
Como manter a instalação segura e evitar contaminação?
Se mantiver os depósitos de água quente (termoacumuladores, depósitos dos painéis solares, etc.) a uma temperatura superior a 60°C, consegue reduzir o risco de crescimento bacteriano, incluindo Legionella e evitar contaminação.
Garantir a manutenção adequada do sistema água e limpar, desinfetar e efetuar manutenção preventiva com regularidade aos dispositivos e equipamentos que produzem aerossóis, como humidificadores, torres de arrefecimento e banheiras de hidromassagem, também ajuda.
Que medidas adicionais podemos tomar para evitar contaminação?
Implemente um programa de gestão por cada instalação a seu cargo que use água para evitar contaminação.
Defina e siga um programa de prevenção e controlo de forma a garantir a existência de processos eficazes que evitem o desenvolvimento e propagação microbiológica.
Considere amostragens de rotina como parte do seu programa.
Efetue testes de controlo de amostras de água do seu sistema para Legionella, para decidir como e quando dar resposta. Pode ser o suficiente ajustar os níveis de temperatura ou fazer uma limpeza e desinfeção ao sistema.
Efetue auditorias externas ao plano implementado, conforme exigido na lei 52/2018 de 20 de agosto.
… e se o sistema estiver infetado por Legionella, o que devo fazer?
Uma vez um sistema infetado por Legionella, dificilmente se consegue uma erradicação total, mas através de um controlo mais apertado, é possível controlar o reaparecimento da bactéria e evitar contaminação.
Após a sua limpeza e desinfeção, devem ser mantidas as frequências de análises de Legionella até se adquirir um histórico em que haja confiança no regime de controlo e prevenção de Legionella.
Nestas circunstâncias também devem ser tomados alguns passos de forma a garantir que a avaliação de risco reflete este fato e evitar contaminação. As medidas de controlo devem ser elaboradas de forma a garantir que, mesmo que a Legionella esteja presente em número baixo, não deve conseguir multiplicar-se para valores perigosos.
Como implementar um regime de controlo eficaz e que nos dê segurança para evitar contaminação?
Uma nota muito importante a referir tem a ver o com tempo de resposta até se obter resultados laboratoriais de acordo com as normas em vigor para o despiste de Legionella spp e Legionella Pneumophila.
O método considerado como a “Golden Standard” de todos os métodos, é o de contagem de Legionella por meio de cultura, tal como descrito na norma ISO 11731: 2017.
Este método leva pelo menos 15 dias até que produza resultados.
Há, no entanto, alguns desafios que se colocam nos métodos de deteção de risco microbiológico uma vez que os testes de Legionella só produzem um resultado positivo se forem reunidas algumas condições na colheita. O método por cultura, é um método complexo e exigente em tempo, meios de cultura, reagentes e experiência técnica.
Se pensarmos no tempo total entre: colheita e realização de testes + mitigação do problema + reavaliação, no caso do controlo de Legionella o tempo de ciclo irá rondar perto de 30 dias.
Entretanto colocam-se várias questões quanto ao que aconteceu nesses 30 dias:
- A instalação ficou encerrada todo este tempo?
- A instalação continua em funcionamento, nos primeiros 15 dias do ciclo (até chegarem os resultados) pois “à partida” estará tudo bem”, e depois encerra porque houve um positivo? E se alguém ficou doente nesses primeiros 15 dias?
- A instalação é reaberta findo o tempo de ciclo?
- Quais os custos associados ao encerramento de uma instalação por contaminação de Legionella?
Assim, para um controlo de processo eficaz e de forma a ser possível controlar as operações de mitigação (limpezas, desinfeções, purgas), acreditamos na eficácia dos métodos de monitorização microbiológica com tempos de resposta imediatos, única e exclusivamente para controlo de processo.
Os testes de campo para despiste rápido do risco de Legionella podem facilitar bastante o mapeamento microbiológico de toda a instalação e permitem obter rapidamente a compreensão do estado de desenvolvimento microbiológico nos pontos de maior risco.
Com uma avaliação rápida, é possível atuar preventivamente, não permitindo assim que se desenvolvam situações caóticas de contaminação microbiológica.
Mais informações aqui.