A monitorização da concentração do desinfectante residual, ou biocida (isto é, concentração de cloro livre e total e / ou cloramina) é uma das práticas mais essenciais nos programas de gestão da água potável. Esta acção garante que uma protecção suficiente seja mantida em todos os pontos do sistema de distribuição. A ausência de um biocida residual significa que a supressão do crescimento microbiológico não existe e a taxa de re-crescimento pode ser significativamente acelerada.
No entanto, manter um nível de desinfectante residual adequado fornece protecção suficiente?
“Nim”. Em parte podemos dizer que sim, mas dados reais comprovam o oposto, ter níveis elevados de biocida, não significa obrigatoriamente que a água é segura se pensarmos na sua microbiologia.
Muitos pensam que ao manter consistentemente as concentrações de desinfectante residual a determinados níveis, irão manter longe qualquer problema microbiológico, mas, infelizmente, não é bem assim.
Recomendamos a leitura de 3 considerações que deve ter, quando efectua a monitorização da concentração do desinfectante residual relacionando essa concentração com a carga microbiológica existente:
Os micróbios podem sobreviver e sobrevivem de várias maneiras – os microorganismos tendem a formar comunidades conectadas em sistemas de distribuição chamados de “biofilme” nas paredes de tubos e reservatórios. Os desinfectantes na fase aquosa , só entrarão em contacto com as camadas externas do biofilme enquanto as comunidades dentro do biofilme estão protegidas.
Os biofilmes estabelecidos numa conduta de água são difíceis de remover em termos de tempo, esforço e custo total com métodos de limpeza tradicionais (para este problema existe a solução de limpeza de condutas com o hyrogel).
Como tal, é muito mais rentável evitar que ocorram problemas significativos de biofilme em vez de tentar removê-los após a sua formação. Há duas formas de evitar a acumulação de biofilme em condutas:
- Realizar monitorizações microbiológicas periódicas na rede;
- Com o resultado destas monitorizações estabelecer um plano preventivo de limpeza de condutas.
A maioria dos sistemas de distribuição de água enfrenta desafios associados aos biofilmes, então um objectivo realista será a gestão do risco em vez de esperar que chegue a um ponto em que nenhuma desinfecção ou limpeza de conduta poderá resolver (o mesmo se aplica a problemas de acumulação de calcário, Ferro e Manganês).
Além disso, existem várias classes de microorganismos que são resistentes a desinfectantes, tornando-os especialmente difíceis de lidar. Por exemplo, o Cryptosporidium é altamente resistente ao cloro, portanto, desinfectantes alternativos como dióxido de cloro, ozono ou tratamento UV também podem ser considerados.
Em geral, não é surpreendente ver conteúdo microbiológico elevado em pontos onde a concentração de biocida residual é considerada suficientemente alta:
A eficácia da desinfecção depende fortemente do pH – Um aspecto fundamental da química da água é a eficácia dos produtos químicos em várias faixas de pH. Por exemplo, enquanto o cloro é efectivo a um pH neutro e baixo, é apenas um terço efectivo a um pH de 8.
Os desinfectantes, como o cloro, não se consomem exclusivamente com os microrganismos. O cloro é um oxidante de amplo espectro, o que significa que reage praticamente com qualquer coisa com que entre em contacto, e inclui microorganismos. Também reagirá com compostos orgânicos, sedimentos e troços de tubagem ou equipamentos deixados em fase de obra na construção da conduta. A perda da concentração de biocida residual pode ter origem em vários factores, tanto químicos como físicos e não apenas devido ao crescimento microbiológico, portanto, uma perda de desinfectante residual não é necessariamente um indicador de contaminação biológica.
Uma forma proativa de gestão do crescimento microbiológico no sistema de adução e distribuição de água será usando uma aproximação holística, que inclua a combinação de métodos de tratamento e ferramentas de monitorização que permitam quantificar o risco microbiológico completo e optimizar a quantidade de produtos químicos aplicados na água.
Artigo de Davey Tracey, P. Eng. Químico, Director na Luminultra, traduzido e adaptado por WASE- Engenharia, Lda.